segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Banda: Mr. Bungle; Álbum: Mr. Bungle



Banda: Mr. Bungle
Álbum: Mr. Bungle
Ano: 1991
Gênero: Avant-garde; Funk Metal


Finalmente resolvi começar minha aventura de fazer as resenhas dos álbuns do Mr. Bungle. Na resenha do debut do Fantômas, eu disse que faria pelo menos duas resenhas sobre esta banda fantástica, mas acho que, no fim, terei de fazer resenhas dos três álbuns. Os motivos são simples: cada álbum tem um estilo muito peculiar, e nenhum deles merece ser "excluído".

O Mr. Bungle teve seu início em 1985, mais ou menos, na cidade de Eureka, California (nome sugestivo). Era formada por Mike Patton (vocal), Trey Spruance (guitarra), Trevor Dunn (baixo) e Jed Watts (bateria). O nome veio de um filme escolar, aonde um palhaço porco, sujo e sem noção chamado Mr. Bungle mostrava como as crianças boas não deveriam agir.

A linha sonora do Bungle era, tentando definir por cima, um death metal maluco, com saxofones e bongôs. Pelo menos era o que a banda mostrava na demo The Raging Wrath Of The Easter Bunny ("A Incrível Fúria do Coelhinho da Páscoa"). Porém, em 1987, a banda gravou uma fita chamada Bowel Of Chiley e, nesta fita, a sonoridade do Mr. Bungle se apresentava totalmente diferente daquela registrada no ano anterior. Era uma mistura maluca de ska, swing, funk e metal, fazendo com que a banda chamasse os músicos Scott Fritz e Theo Lengyel para tocar os metais. Além disso, Jed Watts foi trocado por Hans Wagner.

A banda passou por outras gravações e tudo mais (para dar uma resumida), e a formação definitiva estabeleceu-se em 1989, com o lançamento da demo OU818, a última independente do Bungle. A banda contava com o trio Patton, Spruance e Dunn, e com os novos membros: o baterista Danny Heifetz e o saxofonista e tecladista Clinton "Bär" McKinnon.

O ano de 1989 foi essencial na carreira do Mr. Bungle, visto que foi nesse ano que Mike Patton foi chamado pelo Faith No More para substituir o vocalista Chuck Mosley. O Faith No More, então, lança o álbum The Real Thing, que acaba estourando no mundo todo com clássicos como Epic, From Out Of Nowhere e Falling To Pieces. Assim que Patton consegue algum dinheiro, o Bungle assina com a Warner e, em 1991, lança seu debut auto-intitulado.

O álbum foi produzido pelo lendário saxofonista avantgarde John Zorn, que inclusive participa na faixa Love Is A Fist. Algumas músicas já estavam presentes nas demos anteriores, e a banda seguiu a mesma linha adotada na demo de 1989 (ou seja, o ska foi bem amenizado e ocorreu uma influência maior do funk). O tracklist é o seguinte (clique nas músicas para escutar):


1. Travolta
2. Slowly Growing Deaf
3. Squeeze Me Macaroni

4. Carousel
5. Egg
6. Stubb (A Dub)
7. My Ass Is On Fire
8. The Girls Of Porn
9. Love Is A Fist
10. Dead Goon

Muitos críticos definiram este álbum como sendo "funk metal", mas acho muito simplista. Basta ouvir Travolta para ficar, no mínimo, incomodado. Ao colocar o vinil (ou CD, Mp3, whatever), você tem 30 segundos de silêncio absoluto. Então, ouve um click e a banda entra com tudo, com aquele teclado sinistro no fundo. Inicialmente parece que a música vai ser algo linear e comum, mas não: de repente, a banda começa a tocar um jazz e, em poucos segundos, alguma coisa semelhante a metal e soul. Enfim: tentar rotular esta banda é muito difícil.

O álbum em si é uma viagem. Diversos samples preenchem as músicas, desde vozes de jogos de videogame (como o Rise from your grave!, do clássico jogo de Mega Drive Altered Beast) até filmes pornográficos. As mudanças frenéticas de ritmo são um choque para quem nunca ouviu música do estilo. Já na segunda faixa, Slowly Growing Deaf, a banda começa com um funk e, em segundos, passa a uma melodia suave que, em segundos, será substituída por algo totalmente diferente.

O humor da banda é explícito. Com todas essas maluquices, encontramos uma música extremamente amigável e linear, bem pop mesmo. Quando vemos o nome, lemos The Girls Of Porn, e ao ouvir a música ouvimos gemidos obscenos e uma letra absurdamente explícita sobre pornografia e masturbação. Sendo assim, não teria como ser executada em uma rádio.

Em Squeeze Me Macaroni, é notável a semelhança com o estilo do Red Hot Chili Peppers no clássico Blood Sugar Sex Magik, também lançado em 1991. Porém, as quebras de ritmo e loucuras do Bungle fazem com que qualquer semelhança REALMENTE seja mera coincidência. No futuro, Mike Patton e Anthony Kiedis se odiariam, mas isso é assunto para outro post.

A performance da banda é impecável (o que se repetiria nos outros dois álbuns), e ver as músicas do Bungle ao vivo é um prazer por vários motivos: além de você ver que os caras se divertem pacas tocando, o entrosamento é fantástico. Quem é músico (a) como eu sabe como é difícil ter uma banda entrosada como o Mr. Bungle.

Recomendadíssimo, e a odisséia Bungle (gostei disso) continua...

Eis aqui o vídeo de The Girls Of Porn ao vivo em 1991:

domingo, 22 de janeiro de 2006

Banda: Secret Chiefs 3; Álbum: Book M



Banda: Secret Chiefs 3
Álbum: Book M
Ano: 2001
Gênero: Avant-Garde; Música Eletrônica


Não tenho conhecimento nenhum sobre música oriental, mas tenho certa bagagem prá falar de música ocidental, e posso afirmar com certeza absoluta que nunca vi nada parecido com Secret Chiefs 3.

Imagine uma mistura de música árabe, drum 'n' bass, surf music psicodélica e rock. É mais ou menos isso.

A banda começou como uma brincadeira de três membros do Mr. Bungle: Trey Spruance (guitarra), Trevor Dunn (baixo - mais sobre esse cara no post sobre o Fantômas) e Danny Heifetz (bateria), mas a brincadeira se tornou séria. Em 1996, lançaram seu primeiro álbum, First Grand Constitution and Bylaws, e ficou evidente que a banda tinha muito a oferecer.

O álbum que será recomendado aqui é o Book M, de 2001. A maior parte das músicas foi composta pelo líder Trey Spruance, e o disco em si conta com diversas participações especiais de percussionistas e violinistas. É muito interessante notar que, embora se trate de um trabalho de cunho experimental, muitas músicas têm uma levada bem tradicional (como a faixa de abertura, Knighs of Damcar). Conversei esses dias com uma amiga que faz dança do ventre, e ela até classificou algumas músicas prá mim (olha, essa dança com véu, essa com bastão, essa com punhal etc).

Mas basta ouvir a segunda música, Haga Sophia, para ver como a banda não tem medo de misturar elementos. A batida totalmente eletrônica junto com a melodia orientalesca proporcionam uma boa viagem.
E é interessante notar que muitas músicas são nesse estilo, mas são muito diferentes entre si. As guitarras distorcidas de Vajra são totalmente diferentes das de Combat For The Angel, com um ritmo todo truncado e a bateria pesada.

Algumas músicas parecem uma viagem de E. Horsemen Of The Invisible parece uma rave árabe, é indescritível.

Falando nisso, segue o tracklist:

1. Knights of Damcar
2. Hagia Sophia
3. Vajra (Rat Puriya)
4. Ship of Fools (Stone of Exile)
5. Horsemen of the Invisible
6. Combat for the Angel
7. Zulfiqar III
8. Siege Perilous
9. Dolorous Stroke
10. Blaze of the Grail
11. Lapsit Exillis
12. Lapis Baitulous

13. Safina

Enfim, se você curte música criativa... conheça Secret Chiefs 3!

Eis a música Horsemen Of The Invisible sendo executada ao vivo:

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Banda: Fantômas; Álbum: Fantômas


Banda: Fantômas
Álbum: Fantômas (ou Amenaza al Mundo)
Ano: 1999
Gênero: Metal Avant-Garde

Já que o assunto do post anterior foi o Lovage - e Mike Patton participou do Lovage - vamos falar de Fantômas. Ficou sem entender? Calma, vou esclarecer.

Mike Patton ficou mundialmente famoso por ter sido vocalista da grande e extinta banda Faith No More. Grandes sucessos como Epic, Falling To Pieces e Midlife Crisis foram gravados com Patton no microfone. Porém, não é todo mundo que sabe que, além do Faith No More, o versátil vocalista era integrante da fantástica Mr. Bungle (que com certeza será tema de, pelo menos, dois posts) e viria a criar diversos projetos (ou participar, como foi o caso do Lovage).

Um desses projetos é o Fantômas, com circunflexo mesmo (nome de um anti-herói de uma série francesa pré-primeira guerra mundial). Criado em 1999 (um ano após o fim do Faith No More), a banda conta com músicos extraordinários. Além de Patton (vocalista incrível), temos Buzz Osborne (do Melvins) na guitarra, Trevor Dunn (que já foi do Mr. Bungle e é extremamente ativo no cenário jazz da costa oeste dos Estados Unidos) no baixo e o monstro sagrado da bateria Dave Lombardo, do Slayer.

O primeiro disco da banda (e não só o primeiro, diga-se de passagem), homônimo, é um choque. A começar pelo tracklist. Ei-lo:

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Exatamente. Trinta faixas, cada uma representando uma página de um livro. Segundo o site oficial, o objetivo deste álbum é homenagear os filmes e livros de ficção científica. E é nessa hora que alguém desavisado pode perguntar "interessante, isso pode ser percebido nas letras?". E quando ouve a resposta "não, o álbum não tem nenhuma letra", faz uma cara de surpresa e pensa consigo mesmo "então porque tem um vocalista?".

A resposta vem logo na primeira música, a página um. Um som gutural extremamente grave junto com o baixo pesadíssimo de Dunn. Na seqüência, diversos pratos e chimbaus são acionados por cerca de 45 segundos, dando lugar a uma seqüência de notas extremamente pesadas para, no fim, dar lugar ao gutural e baixo do começo. E acabou a página um, depois de um minuto e trinta e quatro segundos.

Muitos param de ouvir a banda aí. "Isso não é música" é o mais comum, seguido de "mas os caras fizeram qualquer coisa e gravaram" e "que bosta". E eu defendo com ferocidade: é música sim. Apenas não é linear como 99,99% das bandas.

Fantômas nos apresenta uma nova dimensão dentro do conceito de música. Ouvir a página 12, por exemplo, nos oferece berros insanos de Patton, juntamente com a perfeita técnica e sincronia dos músicos. Na mesma música, temos teclados incrivelmente sombrios e vocalizações tétricas. Ainda na mesma música, temos microfonia e pedal duplo, que logo voltam a dar lugar às vocalizações. Tudo isso em menos de dois minutos.

Todas as músicas deste álbum são fragmentadas. Patton se transforma em um instrumento absurdamente versátil, e não um vocalista que canta uma letra com a música servindo de "acompanhamento". Ele se transforma em parte da música, não mais ou menos importante. Além de tudo, a precisão da banda impressiona. Prá quem fala que "eles fizeram qualquer coisa e gravaram", só posso dizer que ver aquilo ao vivo e totalmente fiel à versão de estúdio é a maior prova de que nada no Fantômas é por acaso.

É notável a influência do metal dentro do Fantômas - não poderia deixar de ser assim com Dave Lombardo na bateria. Mas existem outros ingredientes, como trilhas sonoras de filmes (que seria o tema principal do álbum The Director's Cut, lançado em 2001) e de desenhos animados (tema principal do Suspended Animation, de 2005).

Se você for ouvir este álbum, prepare-se: você não vai mais ver música da mesma maneira. É como se fosse um cubismo do século XXI ou algo assim. Indispensável.

Eis as páginas de 1 a 5 executadas ao vivo pelo Fantômas:

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Banda: Lovage; Álbum: Music To Make Love To Your Old Lady By



Banda: Lovage

Álbum: Music To Make Love To Your Old Lady By
Ano: 2001
Gênero: Trip Hop

É muito legal (pra quem gosta) conhecer bandas novas. Não necessariamente nascidas recentemente, mas novas no sentido de até então desconhecidas. Pra quem é eclético, o número de bandas boas em potencial aumenta muito, e é para essas pessoas que eu recomendo esta banda: Lovage.

Oficialmente, o Lovage é composto por quatro pessoas: Dan Nakamura, Mike Patton, Jennifer Charles e Kid Koala. Dan Nakamura (Dan The Automator) já produziu bandas como Gorillaz, Mike Patton tem em seu curriculum ótimas bandas: além da famosa Faith No More, o vocalista fazia parte do fantástico Mr. Bungle, e hoje faz partes de bandas como Fantômas (com Buzz Osborne, do Melvins, Trevor Dunn, ex-Mr. Bungle e Dave Lombardo, do Slayer). Jennifer Charles é a vocalista da não tão famosa Elysian Fields, e Kid Koala é um famoso DJ canadense.

O projeto foi mentalizado por um cara chamado Nathaniel Merriweather. Não tenho certeza das intenções dele ao imaginar o projeto, mas se ele queria fazer a mistura perfeita entre trip hop, sexo e soul, conseguiu.

O debut (e, por enquanto, único) do Lovage se chama Music To Make Love To Your Old Lady By. Lançado em 2001, contém 16 faixas. Eis o tracklist:


1. Ladies Love Chest Rockwell
2. Pit Stop (Take Me Home)
3. Anger Management
4. Everyone Has a Summer
5. To Catch a Thief
6. Lies and Alibis
7. Herbs, Good Hygiene & Socks
8. Book of the Month
9. Lifeboat
10. Strangers on a Train
11. Lovage (Love That Lovage, Baby)
12. Sex (I'm A)
13. Koala's Lament
14. Tea Time With Maseo
15. Stroker Ace
16. Archie & Veronica

As letras são impressionantes. Como o álbum todo gira em torno de sexo, o conteúdo das letras é bem explícito. Tratam de sexo e romance de uma maneira muito interessante, algumas vezes de uma forma escrachada. Strangers On A Train, por exemplo, poderia ser o roteiro de qualquer um daqueles filmes que passam na TV Bandeirantes nas madrugadas de sábado. Algumas são bem reflexivas, como Everyone Has A Summer. Em certa parte, ouve-se uma mulher com voz chorosa falar "it takes so many things to make love last! Most of all, it takes respect, and I can't live with a man I don't respect".

Fantasias sexuais também são exploradas. Em Sex (I'm A), um cover da banda oitentista Berlin, por exemplo, uma Jennifer Charles lânguida fala o que muito marmanjo gostaria de ouvir na cama. Em resposta à afirmação de Patton (I'm a man), ela responde "sou uma deusa, sou uma virgem, sou uma prostituta, sou sua escrava, e nós faremos amor juntos". Na mesma música, samples de depoimentos discutem, por exemplo, o fato do sexo oral ainda ser um tabu e um dos principais motivos que levam os homens comprometidos a procurar prostitutas.


Musicalmente, o álbum é bem convencional (excetuando-se a incrível performance vocal de ambos os vocalistas - a voz de Jennifer Charles é incrivelmente sexy). Batidas simples, com teclados suaves e eventuais gemidos. Delicioso de se ouvir.


Lovage é bom porque lembra sexo, filmes eróticos B, cigarros, fumaças e perfumes baratos.


Eis o clip de Book Of The Month:

Propostas (nada rigorosas) do blog

Sejam bem vindos ao Blog Chato e Totalmente Cliché. Meu nome não interessa, muito menos o que faço ou deixo de fazer. Não interessa se tenho filhos, se bebo, se sou homem ou mulher. O que interessa é que pretendo, neste espaço, divulgar coisas legais e interessantes, como dicas de música (principalmente), filmes, livros, além de viagens e impressões pessoais sobre diversas coisas. O título do blog já explica muita coisa. É um blog chato e cliché, não tem graça nenhuma, não pretende ser engraçado ou inovador. Só pretende mostrar umas coisas legais, e é prá isso que ele vai servir. Na verdade, nem legais essas coisas precisam ser, basta serem coisas e estarem em contato comigo que eu posto (se der vontade). Também vou usar prá criticar e falar mal do que não gosto. Pode ser que eu atualize o blog sempre. Pode ser que atualize de vez em nunca. Quem sabe? Só para tornar o blog ainda mais chato, não vou dar dica nenhuma neste post. Fica prá depois, ou prá amanhã, ou prá hora que der vontade. Bem-vindos ao mais novo blog chato da web! :)