quarta-feira, 26 de julho de 2006

Banda: Masada; Álbum: Alef


Banda: Masada
Álbum: Alef
Ano: 1994
Gênero: Jazz; Klezmer (música judaica)

É engraçado ver como este blog vai, aos poucos, se fechando. Vamos fazer uma retrospectiva:

Meu primeiro post de verdade foi sobre o Lovage, que é uma banda composta por Mike Patton, Jennifer Charles, Dan Nakamura e Kid Koala. Muito bem. Mike Patton já tocou em várias bandas, entre elas o Mr. Bungle, que já teve três resenhas publicados aqui. Ora, o guitarrista do Mr. Bungle era Trey Spruance, que - oh! - é a cabeça por trás do Secret Chiefs 3 e do Faxed Head, que já tiveram resenhas publicadas aqui. Mike Patton já fez uma participação no disco Medúlla, da Björk, e esse disco tem uma resenha aqui (e a Björk participou indiretamente em um clip do Faith No More, ex-banda de Patton, mas isso é assunto para outro post). Voltando ao Bungle, o produtor do primeiro álbum deles foi John Zorn, que tem no currículo bandas como o Naked City - que já tem uma resenha aqui - e o Masada, que é o "alvo" de hoje.

Quem não é fanático por música mas é fanático por história (ou é judeu, ou curioso) já deve ter ouvido o nome Masada, mas não como uma referência a uma banda. Masada foi um conjunto de fortificações localizado em uma enorme montanha (masada vem do hebraico "metzuda", fortaleza) e palco de uma das mais impressionantes histórias da antigüidade. O fim da primeira guerra entre judeus e romanos (também conhecida como a grande revolta dos judeus), que durou dos anos de 66 a 73, aconteceu em Masada quando, após mais de três meses de cerco, os romanos conseguiram romper os muros da fortaleza para encontrarem apenas os corpos de seus defensores. Muitos acreditam ter havido suicídio coletivo; outros acreditam que eles atacaram uns aos outros até o último homem, que teria cometido suicídio (afinal, a religião judaica condena o suicídio, como tantas outras) - tudo isso para não morrerem ou tornarem-se escravos nas mãos dos romanos.

Quem não é fanático por história mas é fanático por música talvez nunca tenha ouvido o nome Masada - mas procure ouvir. É muito difícil definir, mas vou tentar: imagine uma mistura entre free jazz e música judaica. Sendo absurdamente simplista, o Masada seria isso. Porém, as coisas tomaram proporções assustadoras.

O Masada lançou dez álbuns de estúdio com a formação clássica entre 1994 e 1997: Alef, Beit, Gimel, Dalet, Hei, Vav, Zayin, Het, Tet e Yod. Essa formação conta com John Zorn no saxofone, Dave Douglas no trompete, Greg Cohen no baixo e Joey Baron na bateria. Entretanto, em seus anos de atividade (desde 1993, ou seja, treze anos), diversos lançamentos fizeram do Masada uma banda muito mais interessante do que ela aparenta ser ao ouvir os dez álbuns com os quatro músicos: inúmeras bandas diferentes tocando arranjos diferentes das músicas desses álbuns (e algumas que não entraram, visto que Zorn compôs mais de 200 músicas nesse período de 3 anos). A formação Bar Kokhba, por exemplo, conta com Mark Feldman no violino, Erik Friedlander no violoncelo, Greg Cohen e Mark Dresser no baixo, Marc Ribot na guitarra, Anthony Coleman e John Medeski no piano/órgão, David Krakauer e Chris Speed no clarinete, Kenny Wolleson na bateria e Dave Douglas no trompete. Esses músicos revezam em diversas formações e apresentam releituras belíssimas das músicas de Zorn, além de algumas que são executadas exclusivamente por esta formação. Outro álbum - Masada Guitars, por exemplo - conta com três guitarristas rearranjando as músicas da formação original, e apenas isso. São 21 faixas, todas contando com um guitarrista e sua guitarra, nada mais. Belíssimo álbum, mas vamos voltar e falar do primeiro dos primeiros: Alef.

Gravado e lançado em 1994, teve a enorme responsabilidade de ser o carro-chefe - o álbum que mostra ao mundo a que a banda veio. E logo na primeira faixa, Jair, somos bombardeados com a banda em um jazz frenético e diferente, cheio de escalas diferentes e tempos quebrados. A precisão dos músicos é impressionante. A criatividade nas improvisações de todos os músicos é avassaladora, mantendo com fidelidade relações com o tema principal.
Temos, então, uma sucessão de faixas de diferentes perfis. Bith Aneth é lenta e densa; Tzofeh é oscilante em sua intensidade. O melhor do disco é a seqüência Tahah - Kanah. A primeira tem um ritmo agitado, guiado principalmente pelo baixo de Greg Cohen; a segunda é um épico lentíssimo cheio de belos duetos de Zorn e Douglas. Outra ótima faixa do álbum é Janohah, que por algum motivo me lembra um navio em movimento.

Sendo Zorn o músico experimental que é, era de se esperar que tivéssemos essa caracterítica em Alef. E ela é bem representada no jazz frenético de Zebdi. Extremamente veloz, com o sax e o trompete em uma briga furiosa.

Tracklist:
1. Jair
2. Bith Aneth
3. Tzofeh
4. Ashnah
5. Tahah
6. Kanah
7. Delin
8. Janohah
9. Zebdi
10. Idalah-Abal
11. Zelah

Um grande álbum, e o debut de uma banda que merece ser escutada não apenas por suas composições, mas também pelas releituras de suas próprias obras.

Recomendadíssimo.

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Banda: Faxed Head; Álbum: Exhumed At Birth


Banda: Faxed Head
Álbum: Exhumed At Birth
Ano: 1997
Gênero: Death Metal; Avant-garde

Ultimamente, a última grande revelação do metal no Brasil foi o Massacration. A banda é uma paródia extremamente bem feita aos clichês do heavy metal, com roupas de couro, voz aguda e músicas com riffs similares. Entretanto, eles estão longe de serem os primeiros a fazer coisa parecida. Temos outras bandas-paródia, como o Brujeria e esta analisada hoje, o Faxed Head.

Quem faz parte do Faxed Head? Segundo o release oficial da banda, a banda teve seu início quando um dos integrantes, na pequena cidade de Coalinga, encontrou alguns CDs de death metal que haviam caído de um caminhão no meio da estrada. Ele mostrou a descoberta para seu círculo de amizades e todos logo ficaram impressionados com as letras sombrias e com o clima macabro das músicas. Com o vício dos garotos em cheirar cola, logo ficaram mal quistos na cidade e fizeram um pacto de suicídio. Um deles roubou uma espingarda do pai e todos foram até as plantações de algodão de Coalinga para realizar o ato. Porém, tudo deu errado e eles sobreviveram - todos aleijados e com problemas mentais. Após anos em clínicas de reabilitação e hospitais, eles resolveram formar uma banda. Os quatro integrantes são: Neck Head (que não tem cabeça e tem o pescoço muito alongado) na guitarra, McPatrick Head (o mais aleijado de todos: teve a pele substituída por tecido xadrez e usa uma cadeira de rodas) no vocal, o baixista obcecado por matemática Graph Head e, originalmente, o baterista Washington DC Head. Entretanto, Graph Head deixou a banda e Washington morreu devido ao vício em batata frita, sendo substituídos por Jigsaw Puzzle Head (que tentou se matar e caiu com o rosto sobre o quebra cabeças que montava, ficando com as peças coladas eternamente) e LaBrea Tar Pit Head (outra vítima de suicídio sem sucesso, tendo ficado parcialmente coberto por piche) respectivamente - e tudo isso em parceria com o mímico Fifth Head nos samples.

É claro que isso não é verdade, e a banda é uma paródia ao death metal que tem como mentores o comediante americano Gregg Turkington (mais conhecido como Neil Hamburger) e o guitarrista Trey Spruance (muito citado neste blog). Não encontrei registros sobre a data oficial de formação, mas o primeiro disco foi lançado em 1995 (Uncomfortable But Free) e o álbum aqui resenhado, o segundo da banda, em 1997 (Exhumed At Birth, ou "exumado ao nascer", referência clara ao "Butchered At Birth" do Cannibal Corpse").

Quem teve acesso ao Gates Of Metal Fried Chicken Of Death, do Massacration, vai entender bem o que vou dizer aqui. O Faxed Head não apenas pega os principais clichês do estilo e os mescla como adiciona inclusive os fillers característicos, ou seja, aquelas faixas que nem sempre são música mas que dão um clima específico para o disco. É uma paródia das mais sérias que podem ser feitas, pois não descaracteriza o objeto. A primeira faixa se chama "I Saw Into The Grave Grave" e é muito semelhante à "Intro" do CD do Massacration. Lenta, com uma voz macabra lendo um texto (infelizmente não consegui entender as palavras). A seguir, o álbum mostra uma seqüência de músicas com riffs muito inteligentes e típicos de death metal, com as tradicionais batidas de bateria e baixo pesado. Porém, várias das músicas contam com a letra "falada" por McPatrick Head com uma voz extremamente demente (afinal, ele sobreviveu a um tiro de espingarda e é um ex-usuário de cola de sapateiro).

As letras são um espetáculo a parte. Ao ler o título "Gore and Guts", algum mais desavisado esperaria uma letra típica de death metal, visto que "gore" é sangue coagulado e "gut" é tripa. Porém, é uma música sobre Al Gore e sua capacidade - também é "gut" em inglês, um equivalente a "ter estômago para" - como governante.

Temos momentos bem interessantes no álbum, como a faixa "House Of Spirits". Inteira tocada no teclado e com um clima medievalesco, é viciante. Aliás, muitos riffs bons estão presentes ao decorrer do álbum. Destaque para "Gore and Guts", "House Of Spirits", "Don't Turn Out Like Me" e "A Dream".

Recomendado para fãs de death metal com bom humor.

Tracklist:
1. I Saw into the Grave Grave
2. Teachers Cohen
3. Exhumed at Birth
4. Gore and Guts
5. House of Spirits
6. The Ancient Evil
7. Susurrus in Gloaming
8. Don't Turn Out Like Me
9. The Sickroom of Delivery
10. Coud Eckankar Help?
11. A Dream
12. Peregrinations from Beyond

13. The Blackened Coffin