segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Banda: Dengue Fever; Álbum: Dengue Fever


Banda: Dengue Fever
Álbum: Dengue Fever
Ano: 2003
Gênero: Rock Psicodélico

Continuando nossa jornada pelo oriente (pelo amor de deus, que clichê...), vamos falar de uma banda que tem tudo a ver com o Camboja, esse país de quase 15 milhões de habitantes localizado no sudeste asiático. É a Dengue Fever.

Banda de seis integrantes formada em 2001, nos EUA. "Então por que cazzo você falou do Camboja?", você deve estar se perguntando. Simples: a vocalista Chhom Nimol é cambojana e todas as letras da banda são em khmer, língua oficial do Camboja. Além disso, a música da banda tem diversos elementos da música cambojana e seu primeiro CD, que é justamente o deste post, traz alguns covers de música cambojana. Portanto, pode-se considerar o Dengue Fever uma banda americana que toca música cambojana com elementos ocidentais.

Os integrantes do Dengue Fever são a já citada Chhom Nimol (vocalista), Zac Holtzman (guitarra e vocais), Ethan Holtzman (órgão), Senon Williams (baixo), David Ralicke (metais) e Paul Smith (bateria).

O álbum de estréia auto-intitulado foi lançado em 2003, e é um belíssimo debut. Várias músicas do Dengue Fever poderiam estar em filmes do Quentin Tarantino, dando aquele clima retrô tão interessante. É muito difícil listar todas as influências dessa banda, mas temos surf music, música oriental, rock sessentista/setentitsta, jazz, entre muitas outras coisas. São muitas peculiaridades; além da voz aguda na dose certa de Chhom, o órgão é um importante diferencial no som da banda. Uma curiosidade: entre as principais influências da banda estão Os Mutantes.

A faixa de abertura é a ótima Lost In Laos. A introdução marcante, com todos os instrumentos entrando junto e o destaque para o saxofone de Ralicke logo se transforma em uma quase-bossa nova, com a voz de Chhom dando o tempero único da música oriental. A faixa seguinte, I'm Sixteen, tem um tom melancólico apesar do ritmo de surf music; grande parte por conta do órgão de Ethan Holtzman. É interessante a mudança de ritmo no meio da música, principalmente quando a guitarra chorosa recebe o apoio do órgão.

Um dos destaques do disco é a bela Hold My Hips, com belos vocais e um ótimo solo de guitarra. O riff entre os versos fica na cabeça, e o baixo repetitivo lembra muito a fase de transição entre o início e o meio da carreira dos Beatles em músicas como If I Needed Someone e Rain.

Apesar de o disco ser bem linear, seria injusto usar o termo "enjoativo". Outro destaque é o belíssimo cover Ethanopium, originalmente composta pelo músico etíope Mulatu Astatke. É um instrumental com incríveis linhas de trompete e órgão, e novamente o baixo característico citado acima. Não desmerecendo Chhom, mas talvez seja a melhor faixa do disco.

Outros destaques são Glass Of Wine, com os vocais alternados entre Chhom e Zac, a frenética Pow Pow, com um quê de jovem guarda, e New Year's Eve, com os mais que competentes vocais de Chhom.

Recomendadíssimo!

Tracklist:
1. Lost in Laos
2. I'm Sixteen
3. 22 Nights
4. Hold My Hips
5. Flowers
6. Thanks-a-Lot
7. New Year's Eve
8. Ethanopium
9. Glass of Wine
10. Shave Your Beard
11. Pow Pow
12. Connect Four

Abaixo, um vídeo de I'm Sixteen ao vivo:

sábado, 12 de janeiro de 2008

Banda: Templo Radha-Krsna de Londres; Álbum: Chant And Be Happy!


Banda: Templo Radha-Krsna de Londres

Álbum: Chant And Be Happy!
Ano: 1971
Gênero: Música Religiosa Indiana

Antes de tudo gostaria de esclarecer que o rótulo de música "estranha" se aplica a este álbum pelo fato de não ser um estilo difundido e popular entre a maior parte dos ouvintes. Não quero rebaixar o estilo de música, muito menos os mantras ou qualquer elemento ligado ao hinduísmo e suas vertentes.

Falar desse disco sem falar do que o levou a ser gravado seria imprudente, então vamos lá. Em 1966, um homem chamado Bhaktivedanta Swami Prabhupada chegou aos Estados Unidos e fundou a instituição ISKCON (International Society for Krishna Consciousness), que, simplicando muito, teria o objetivo de divulgar alguns ideais do hinduismo para a civilização ocidental - são os famosos "hare krishna". Eis que, em 1969, Bhaktivedanta se encontrou com John Lennon e George Harrison, este buscando a filosofia oriental desde a metade dos anos 60, o que se intensificou com a visita dos Beatles ao guru espiritual Maharishi Mahesh entre 1967 e 1968. George havia produzido os singles Hare Krishna Mantra (com a ajuda de Paul e Linda McCartney e do baterista Ginger Baker) e Govinda na metade de 69 junto com membros do templo Radha-Krishna, de Londres. Após o encontro com Prabhupada, George adotou a filosofia Hare Krishna, em particular o Japa Yoga (um tipo de meditação que funciona quase como o rosário cristão, no qual se ora repetidamente; no caso do Japa Yoga, repete-se os nomes de Deus diversas vezes com o fim de aumentar a consciência do religioso a respeito Dele). Ao escutar Govinda, Prabhupada foi às lágrimas e ordenou que a música fosse tocada toda manhã no templo, e assim é feito até hoje, mesmo trinta anos após a sua morte.

Mas voltando, George iniciou um grande envolvimento com o templo Radha-Krsna de Londres (algo como a "sede" do movimento ISKCON no Reino Unido), e foi questão de tempo para que ele produzisse um álbum completo com os membros do templo. Em 1971 foi lançado o álbum de estúdio do templo Radha-Krsna, e posteriormente este registro ficaria conhecido como Chant And Be Happy!.

Quem é fã dos Beatles e conhece as composições do George já não é 100% leigo no estilo da música indiana. George começou a tocar cítara nas gravações do filme Help! (1965) e, no mesmo ano gravou sua parte em Norwegian Wood com o instrumento no álbum Rubber Soul. No ano seguinte, 1966, teria sua primeira música que seguia o estilo tradicional indiano: Love You To, inteiramente gravada com músicos indianos e com o próprio Harrison; a música é repleta de cítaras, inteiramente em um tom (Dó) e traz um belíssimo solo. A paixão de Harrison pela música oriental se manifestaria até os últimos trabalhos de sua vida. A música Brainwashed, que fecha o disco homônimo e póstumo, termina com uma reza a Shiva, deus hindu da renovação.

Mas voltando ao disco desta resenha, são sete músicas que entoam diversos mantras. A faixa de abertura é justamente a já citada Govinda. Começa com um slide guitar muito sutil, um órgão e bateria bem leve. Eis que a belíssima voz da vocalista começa a entoar a letra, que é repetida através de grande parte da música: Govindam/adi-purusham/tam aham bhajami. Isso significa "Eu louvo Govinda (o ser superior, Deus), o senhor primordial". A melodia vai se repetindo, cada vez mais densa, mais profunda, e é difícil ficar indiferente à canção.

Em seguida temos Sri Guruvastakam. Ao contrário de Govinda, é possível identificá-la como religiosa logo no início. Traz os tradicionais chocalhos, que tocam em um ritmo constante durante o refrão. A música seguinte, Sri Isopanishad, não tem percussão e é guiada, basicamente, pelo violão de George. A voz calma da vocalista e os licks de violão de George são belíssimos.

Bhaja Bhakata/Arati é inteira em um tom só, cantada por dois vocalistas (um homem e uma mulher). Mais uma vez traz os chocalhos, e após os três minutos é acelerada quase de repente, e os duetos ficam mais intensos, sempre sendo seguidos pelo coro dos membros do templo. A música se extende por oito minutos e meio.

Bhajahu Re Bana é a mais monótona do disco, e isso não é pejorativo para uma canção desse tipo. É uma única nota de harmônio (algo como um teclado modificado, muito usado em música indiana) com letras religiosas entoadas pela vocalista. A música tem quase nove minutos, mas passa muito rapidamente quando se escuta prestando atenção nas nuances da voz e da levíssima percussão que surge em determinados instantes.

A próxima é Hare Krishna Mantra, cuja letra é simplesmente Hare Krishna/Hare Krishna/Krishna Krishna/Hare Hare/Hare Rama/Hare Rama/Rama Rama/Hare Hare. Todos os presentes no momento da gravação se juntaram ao coro, e é realmente um dos momentos mais emocionantes do disco, independentemente da crença de quem está escutando. Esse é um dos mantras mais importantes do hinduísmo, e George chegou a usá-lo na famosa My Sweet Lord.

A última música do disco é Govinda Jaya Jaya. A parte instrumental é muito similar à de Bhaja Bhakata/Arati, trazendo a nota de harmônio e os chocalhos. Mas nesta música a vocalista parece está conduzindo a oração. Govinda jaya jaya/Gopala jaya jaya/Radha-ramana hari/Govinda Jaya Jaya - uma música de exaltação a Krishna (também conhecido como Govinda, Gopala e Hari).

A versão em CD traz ainda um diálogo entre Bhaktivedanta, John Lennon, Yoko Ono e George Harrison sobre meditação e mantra. Muito interessante de escutar.

Chant And Be Happy! é, no mínimo, uma experiência interessantíssima para quem nunca escutou músicas desse estilo. São músicas muito profundas e muito diferentes daquelas que a maior parte de nós está acostumado a escutar.

Eis a nota que George Harrison escreveu no encarte do disco (foram mantidos os maísculos originais):

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Todo mundo está procurando por Krishna.
Alguns não percebem que estão, mas estão.
Krishna é DEUS, a Fonte de tudo o que existe, a Causa de tudo o que é, foi ou será.
Como Deus é ilimitado, ELE tem muitos nomes.
Alá, Buda, Jeová, Rama: todos são Krishna, todos são UM.
Deus não é abstrato, ele tem tanto os aspectos impessoais quanto os pessoais de sua personalidade, que é SUPREMA, ETERNA, IMENSAMENTE FELIZ, e repleta de conhecimento. Como uma única gota de água tem as mesmas qualidades de um oceano completo, nossa consciência tem as qualidades da consciência de DEUS... mas durante nossa identificação e apego com a energia material (corpo físico, prazeres sensoriais, posses materiais, ego, etc.) nossa verdadeira CONSCIÊNCIA TRANSCENDENTAL foi poluída e, como um espelho sujo, é incapaz de refletir nossa imagem pura. Com muitas vidas, nossa associação com o temporário aumentou. Este corpo impermanente, um saco de ossos e carne, é inadequado para nossa verdadeira essência, e nós aceitamos como final esta condição temporária.
Por todas as idades, grandes santos permaneceram como provas vivas de que este não-temporário, permanente estado de CONSCIÊNCIA DE DEUS pode ser revivido em todas as almas vivas. Cada alma é potencialmente divina.
Krishna fala no BHAGAVAD GITA: "Firmado no Ser, sendo libertado de toda a contaminação material, o yogi alcança o estado mais avançado da felicidade em contato com a Consciência Suprema. YOGA (um método científico de realização de DEUS (própria)) é o processo pelo qual purificamos nossa consciência, impedimos futuras poluições e chegamos no estado da Perfeição, com SABEDORIA e FELICIDADE plenas.
Se há um Deus, eu quero vê-lo. Não faz sentido acreditar em algo sem prova, e a Consciência de Krishna e a meditação são métodos pelos quais você pode efetivamente obter a percepção de DEUS. Você realmente pode ver DEUS, e ouví-lo, e interagir com ELE. Pode parecer loucura, mas ELE realmente está lá, realmente com você.
Existem diversos caminhos yogis, Raja, Jnana, Hatha, Keyia, Karma, Bhakti, que são aclamados pelos MESTRES de cada método.
SWAMI BHAKTIVEDANTA é, como seu título diz, um yogi BHAKTI seguindo os caminhos da DEVOÇÃO. Servindo a DEUS em cada pensamento, palavra e ação e cantando seus nomes sagrados, o devoto rapidamente desenvolve a Consciência de Deus. Cantando:
HARE KRISHNA, HARE KRISHNA,
KRISHNA KRISHNA, HARE HARE
HARE RAMA, HARE RAMA
RAMA RAMA, HARE HARE
inevitavelmente se chega à consciência de KRISHNA. (A prova do pudim está na degustação!)
DÊ UMA CHANCE À PAZ
TUDO O QUE VOCÊ PRECISA É DE AMOR (KRISHNA) HARI BOL
GEORGE HARRISON 31/03/1970
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Recomendadíssimo.

Tracklist:
1. Govinda
2. Sri Guruvastakam
3. Sri Ishopanishad
4. Bhaja Bhakata/Arati
5. Bhajahu Re Mana
6. Hare Krishna Mantra
7. Govinda Jaya Jaya
8. Room Conversation Excerpts (Bhaktivedanta, John Lennon, Yoko Ono and George Harrison)

Eis um vídeo de Govinda: