quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Artista: Jon Hopkins; Álbum: Insides



Artista: Jon Hopkins
Álbum: Insides
Ano: 2009
Gênero: Música eletrônica; ambient; dubstep

Seja por preconceito ou desconhecimento, existem alguns gêneros musicais que são incrivelmente subestimados. O álbum aqui abordado traz influência de um desses gêneros: o ambient.

De certa maneira eu já falei de ambient neste blog quando resenhei o Low, do David Bowie. Para quem não sabe, trata-se de um gênero musical que tem suas origens lá no começo do século XX, nos movimentos futurista e dadaísta – mais especificamente com um músico francês chamado Erik Satie.

Satie começou a fazer experimentos que ele mesmo rotulava como “anti-música” ou “música de decoração”, um tipo de composição minimalista e repetitiva que serviria como um pano de fundo para atividades cotidianas e poderia facilmente ser ignorada – ao contrário de ser o foco da atenção. Esse mesmo conceito influenciou Brian Eno, o respeitadíssimo músico que já foi da lendária Roxy Music, trabalhou com Bowie no fim dos anos 70 e que é considerado o responsável pela criação do termo ambient music. No encarte do álbum Ambient 1: Music For Airports (o primeiro de uma série de 4 álbuns), Eno escreveu um tipo de manifesto  que dizia:  “a ambient music precisa ser capaz de acomodar diversos níveis de atenção do ouvinte sem focar em um em particular; precisa ser igualmente interessante e ignorável”.

O ambient, como praticamente todos os estilos musicais, se fundiou a outros e teve diversas crias. Devido ao enorme uso de sintetizadores, o flerte com a música eletrônica foi assaz bem sucedido e resultou em pérolas como o álbum aqui resenhado.

Jon Hopkins é um londrino nascido em 1979 e tem um currículo bastante interessante, tendo trabalhado com o próprio Eno e com o Coldplay. Ele se interessou por música eletrônica ao ouvir bandas como DepecheMode, New Order e Pet Shop Boys, dedicando-se ao piano e aos sintetizadores desde os 12 anos.

Insides é o terceiro e mais bem sucedido álbum da carreira solo do músico. Apesar de eu ter dado uma ênfase grande à influência de ambient, o álbum é muito mais que isso – basta escutar a primeira faixa, a quase acústica The Wider Sun, para notarmos que estamos diante de um álbum difícil de classificar. Instrumentos de corda tocam uma melodia calma e melancólica que poderia estar na trilha sonora de algum filme de ficção científica e de repente um barulho de água começa bem suave, com sintetizadores ao fundo dando um clima amplo e espacial; é a deixa de Vessel, com sua percussão eletrônica minimalista e baixo à-lá dubstep. A melodia do piano é simples e belíssima, mostrando bem a influência de Eno no som do rapaz.

A terceira música é a faixa-título (Insides, caso você tenha esquecido) é um exemplo de como as possibilidades da música eletrônica são intermináveis. Um ritmo truncado, com influências que vão do downtempo até o já citado dubstep, criam um ambiente sombrio e tenso, inquietante como um filme de suspense com robôs malvados.

Wire, por sua vez, é justamente o oposto. Aqui, Hopkins mostra seu lado mais pop com melodia e batida muito mais convencional que poderia tranquilamente ganhar uma letra e tocar em alguma estação de rádio não-tão-convencional. Uma boa faixa, bem destoante das anteriores.

Colour Eye varia momentos do chamado IDM (Intelligent Dance Music, um termo muito controverso também conhecido como art techno) com ambient de uma maneira balanceada e imprevisível. A música é turbulenta e surpreendentemente termina com quase um minuto de barulho de chuva.

A próxima faixa é a minha favorita do álbum. Com um nome audacioso, Light Through The Veins conseguiu, pelo menos para mim (que sou meio doido e sinestésico), criar de fato uma sensação de luz correndo pelas veias. Uma balada épica, com um crescendo incrível que se extende por quase 10 minutos, sempre repetindo a mesma melodia no bizarro compasso de 9/4 (eu contei certo? Corrijam-me, músicos de plantão!). A música vai crescendo aos poucos e ficando enorme, envolvente, até morrer aos poucos, sempre lentamente e progressivamente, fluida e sem nada abrupto. O Coldplay sampleou essa música em Life In Technicolor e certamente não foi à toa. Faixa épica e sensacional.

Hopkins contrasta a grandiosa faixa anterior com a calmíssima The Low Places. Parece ter saído da mesma parte do cérebro que compôs Vessel, com uma estrutura semelhante apesar de não ter características de dubstep. Esta é mais ambient que qualquer outra coisa, com batidas minimalistas que vão progredindo muito levemente. Bela faixa.

Small Memory é uma pequena faixa tocada no piano, com uma melodia bonita e lenta. Engraçado como o único filler do álbum é justamente a faixa que foge do ambient e serve apenas para conectar a faixa anterior a A Drifting Up. Pelo instrumental, a faixa poderia estar tranquilamente em Vespertine, um dos meus álbuns favoritos da Björk. Novamente Hopkins experimenta com microbeats e texturas, fazendo uma faixa bonita e hipnotizante. A música tem vários níveis, e escutá-la com fone de ouvido é uma experiência incrível.

A última faixa do álbum é a belíssima Autumn Hill. Novamente ao piano, Hopkins nos mostra sua versatilidade com um tema que poderia estar em qualquer filme triste. Muitíssimo bem executada e com barulhos de pássaros ao fundo, sempre criando uma atmosfera envolvente. Fecha com chave de ouro.

Insides é um ótimo álbum. Hopkins foi muito feliz ao montar a estrutura, a ordem das faixas, criando as nuances necessárias para que um disco seja mais que apenas um conjunto de faixas. Há faixas memoráveis e a execução é impecável. Coisa fina.

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1."The Wider Sun"  2:37
2."Vessel"  4:44
3."Insides"  4:40
4."Wire"  4:43
5."Colour Eye"  5:13
6."Light Through the Veins" (samples on Coldplay's "Life in Technicolor" and "The Escapist", from "Viva la Vida or Death and All His Friends")9:21
7."The Low Places"  6:37
8."Small Memory"  1:43
9."A Drifting Up"  6:29
10."Autumn Hill"  2:40

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Artista: Amon Tobin; Álbum: Permutation



Artista: Amon Tobin
Álbum: Permutaton
Ano: 1998
Gênero: Música eletrônica, jazz

Quem ouve falar de um cara chamado Amon Tobin nem imagina que ele nasceu no Rio de Janeiro. O nome soa gringo, e de certa forma ele é mesmo: aos dois anos de idade se mudou com a família (obviamente) para o Marrocos, viveu em diversos países até se assentar na Inglaterra até 2002.

Foi na Inglaterra, aliás, que o rapaz se interessou por música eletrônica e, principalmente, pelo uso de samples. Pra quem não sabe, o sample é um trecho de uma outra música ou áudio que é reaproveitado de maneira diferente por outro artista. Amon se tornou muito bom nisso, e quando eu digo muito bom eu quero dizer um dos melhores do mundo.

Permutation é o terceiro trabalho de estúdio de Amon e é tido como uma de suas melhores obras. Ele foi buscar seus samples em artistas obscuros dos anos 40 e 50 e com isso criou um clima noir incrível, misturando metais com sintetizadores e levadas incríveis de bateria com drum machines. Um finíssimo trabalho de música eletrônica.

A faixa de abertura, Like Regular Chickens, já consegue prender a atenção do ouvinte de cara. Lenta e sombria de início, com um piano levíssimo e dark, a música se transforma progressivamente conforme a bateria vai se transformando de uma levada tranquila para um drum 'n' bass furioso - tudo feito com samples, mas majestosamente trabalhados por Amon. Belíssima abertura.

Bridge traz um swing arrastadíssimo, com bateria e baixo frenéticos e algumas texturizações com guitarras, saxofones e outros instrumentos. A música tem um clima lisérgico (outra característica recorrente no disco) e, de certa maneira, sexy. Nunca é demais repetir o quão prudente o brasileiro foi em escolher seus samples.

Reanimator tem um clima mais contemporâneo, com uma batida muito mais próxima do drum 'n' bass do que do jazz. O baixo é espetacular, provocante, e a bateria convida o ouvinte para a rave. É interessante notar como essa música parece estar um pouco fora do contexto do álbum, e talvez por isso ela se torne uma peça tão indispensável para a qualidade dele. Belíssima faixa.

A melhor maneira que eu encontro para definir Sordid é: imagine se o Daft Punk e o Prodigy fizessem uma parceria. É mais ou menos como a faixa soa: um clima dark e vintage ao mesmo tempo, desafiadora, urbana, com alguns toques de industrial. Tudo isso muito bem encaixado.

Nightlife é outra faixa deveras intrigante. Eu poderia descrevê-la de muitas maneiras, mas pesquisando sobre este álbum eu achei a definição perfeita em uma resenha do site Allmusic: "disney on acid". É exatamente isso: após um começo tranquilo, com um piano de cool jazz "assombrado" por alguns outros efeitos, a música desbanda para um riff de baixo curiosamente infantil e uma levada que me lembra muito um outro projeto interessantíssimo: Fantastic Plastic Machine (se você não conhece, faça um favor a você mesmo e vá atrás - você não vai se arrepender). As melodias que se seguem são memoráveis. Sem dúvidas uma das melhores faixas do álbum.

Escape é bem mais experimental que as anteriores, cheia de samples de voz, batidas complexas e saxofones de free jazz - tem até alguns elementos que lembram dubstep. A música não chega realmente a pegar fogo, então eu a considero um pouco como um filler apesar de seus quase 6 minutos.

Em Switch, Amon escolhe um sample delicioso de jazz, deixa em loop e enche de texturas e solos de instrumentos de sopro cheios de efeitos à-lá dub. Simples mas viciante, outra belíssima faixa.

People Like Frank foca em um sample de baixo e bateria que não tem nada a ver com drum 'n' bass, mas sim com o baixo rabecão e bateria de jazz. A música traz inclusive alguns solos de bateria recheados de white noise e sintetizadores sombrios - característica recorrente do álbum e, como já disse, fundamental para o clima noir.

Sultan Drop tem um clima hipnótico com tempero árabe. O baixo em loop, a bateria ressonante e arrastada, todos os ruídos - tudo contribui para o ambiente desta faixa interessantíssima. Não é um dos destaques do álbum, mas ainda assim é um ponto interessante.

Fast Eddie começa com uma pegada latin jazz, com congas e percussão marcante, mas logo dá lugar à uma fusão com diversos elementos eletrônicos e, novamente, a influência do drum 'n' bass é gritante. É a faixa mais longa do álbum, ultrapassando a marca dos 7 minutos. Bela faixa.

Toys tem uma pegada meio circense de início, mas novamente com o clima ácido e noir já característico do álbum. A maneira como Tobin mescla alguns elementos de fanfarra com sua música mui moderna é excepcional, e em questão de segundos atravessamos décadas de evolução musical.

A faixa que encerra o álbum é a relaxante Nova. Aqui sim podemos notar a influência da música brasileira no rapaz - afinal, a bossa nova nada mais é que o jazz com uma pitada de tempero brazuca. A calma sequencia de acordes tocada no violão é ressaltada por um clarinete cheio de eco e teclados calmíssimos, criando uma textura que nos faz sentir em uma praia de Saturno - se elas existissem, é claro. Belíssimo encerramento.

Permutation é uma obra incrivelmente coesa e coerente, sem abrir mão do experimentalismo e da criatividade. Os samples antigos misturados com as técnicas recentes são trabalhados de maneira única e com muito cuidado. Uma masterpiece e, portanto, recomendadíssima.

Tracklist:

  1. Like Regular Chickens
  2. Bridge
  3. Reanimator
  4. Sordid
  5. Nightlife
  6. Escape
  7. Switch
  8. People Like Frank
  9. Sultan Drops
  10. Fast Eddie
  11. Toys
  12. Nova

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Artista: Hush Hush; Álbum: Oh God


Banda: Hush Hush
Álbum: Oh God
Ano: 2010
Gênero: Dance; Indie; R&B; Pop

É muito difícil resenhar um álbum de um artista tão underground quanto o Hush Hush. Conheci a banda durante uma visita a alguns amigos e achei interessante. Pesquisando na internet, cheguei ao nome do cérebro por trás de tudo: Christopher Kline, um artista (no sentido mais amplo que a palavra pode ter) americano que reside em Berlim. Clique no nome dele para conhecer os trabalhos. O cara trabalha com esculturas, pintura, música, entre outros.

Pois bem. Dizer exatamente o que chama mais a atenção no Hush Hush é mais difícil do que parece. Eu diria que o som carregado de sensualidade é o prato de abertura, mas tem muito mais por trás. Todas as letras falam sobre sexo ou sexualidade, mas com uma abordagem muito única e, por vezes, bizarra - já entrarei nos méritos líricos. O prato principal fica por conta do próprio Chirstopher Kline, que tem uma presença de palco no mínimo excêntrica. Vestido com um terno perfeitamente alinhado, o cantor barbado se remexe ao som das músicas, cantando no melhor estilo de Prince e fritando de acordo. Dê uma olhada neste vídeo para entender melhor:

Agora que você sabe um pouco sobre a banda/artista, vou falar do álbum, o debut Oh God, de 2010.

A levada do álbum é peculiar. Como eu disse, as músicas esbanjam sensualidade e transpiram influências interessantíssimas. A faixa de abertura, Hey Mama (a do vídeo acima), soa como um Justin Timberlake do mal. O refrão chiclete ("Hey mama, mama/What d'you want with my body-my body?") tem o mesmo clima desafiador de Sexy Back, mas o tom da música é muito mais pesado. O flerte com o pop que ocorrerá durante todo o álbum é escancarado aqui.

Yin-Yang tem um clima diferente, com um ritmo mais arrastado e um baixo mais melódico. A voz lânguida de Kline, em dueto com ele próprio, chama o (a) ouvinte: "I wanna make you cry, I want a sixty-nine". É sexy de uma maneira bem diferente da primeira faixa, mas não deixa a peteca cair. Bela música.

O pop frenético volta em Open Your Mouth. A letra sacana, que convida o (a) ouvinte a "abrir a boca o máximo que conseguir" para "dar uma coisa que sua mãe não vai entender" tem uma percussão marcante e um toquezinho de Prodigy no arranjo. O jeito que Kline trabalha as vozes é bem similar, sempre harmonizando consigo mesmo e criando refrões-chiclete - bons, no caso. Como o pop deve ser.

Don't Ever Wanna See You Lonely tem uma levada muito mais para o soul setentista, com o baixo marcado e bateria suingadíssima. Lembra de leve algumas das músicas mais leves do Jamiroquai, com os falsetes funcionando muito bem. Tem um clima muito mais cool e relax que as anteriores, mas não deixa de ser uma ótima faixa.

Leave On flerta muito com o indie, começando no piano e trazendo um vocal mais grave que nas faixas anteriores. Com uma letra mais romântica, falando de sweet love, ela se destaca por ser muito destoante das demais. Mas não chega a ser tão divertida, e talvez seja o ponto fraco de Oh God.

Sex Party, em compensação, é um dos pontos altíssimos. Tanto a linha de baixo quanto a de vocal são viciantes, com muita influência, novamente, de Justin Timberlake. Uma levada muito mais cool, minimalista, combinada com a letra hipersexual que descreve, como o nome sugere, uma orgia. Baby, everyone we know gettin' down on the floor.

De longe a mais bizarra é Bloody Sex. Se você entende inglês, o título já dá uma idéia do que se trata: sexo com uma mulher menstruada. Mas não apenas sexo, e sim sexo oral. Com uma voz de zumbi, Kline geme "I want blood". Então começa a descrever como, ao olhar para baixo, tem a impressão de se deparar com uma cena de assassinato. E claro, o refrão engraçadíssimo onde ele e uma mulher tem o seguinte diálogo:
-But I have my period!
-You think that I care? I don't care.
-Okay.
-I don't care.
-Okay.
A levada quebrada e sexy dá um clima bizarríssimo, mas interessante e divertido. Ótima faixa.

My Baby's Got It Bad começa com um sintetizador pesado e segue a linha do pop de Hey Mama e Open Your Mouth, com vocais em falsete e um tom provocativo. Gosto do contraste dos efeitos modernos com a percussão com som de madeira ao fundo. É uma boa faixa, mas não se destaca tanto perto das outras.

O gran finale é a divertida I Know Your Panties So Wet. Com o caricato sintetizadorzinho oitentista, Kline faz corar a ouvinte desavisada ao dizer saber que "sua calcinha está molhada/posso ver pelo jeito que você olha". É um belo encerramento para um belo disco.

Levar o clima sexy de Hush Hush a sério ou não fica por conta do freguês. O álbum tem ótimos arranjos, uma performance convincente de Kline como vocalista e compositor e letras inusitadas. É um ótimo álbum de pop, e acredito que uma pérola entre um mar de mesmices.

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1. Hey Mama
2. Yin-Yang
3. Open Your Mouth
4. Don't Ever Wanna See You Lonely
5. Leave On
6. Sex Party
7. Bloody Sex
8. My Baby's Got It Bad
9. I Know Your Panties So Wet

Para escutar o disco inteiro, basta clicar aqui e ouvir no site da banda!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Banda: Giant Squid; Álbum: The Ichthyologist

Banda: Giant Squid
Álbum: The Ichthyologist
Ano: 2009
Gênero:
Post-Metal; Doom Metal

É o terceiro álbum "metal" que eu resenho em seguida, mas não é à toa. Aqueles que dizem que o metal está morto ou que as bandas novas não prestam deveriam buscar conhecer as bandas certas - ou deixar de se prender apenas às clássicas, logicamente.


O Giant Squid é uma banda estadunidense formada em 2001. Como muitas bandas, eles não deram muita sorte e fizeram muito, mas muito de seu trabalho na unha. Um exemplo disso é o trabalho de gravar, empacotar e lançar 400 cópias de seu EP Monster Of The Creek à mão em 2004. As músicas deste EP conceitual falavam sobre os ataques de tubarões de 1916 nos EUA, que foram muito famosos e entraram para a cultura popular estadunidense, influenciando Peter Benchley a escrever o romance Tubarão em 1974 e, consequentemente, Steven Spielberg a gravar o clássico filme baseado no livro em 1975.

O destino finalmente sorriu para o Giant Squid, e o EP caiu nas mãos dos empregados da gravadora The End Records, que tem em sua lista de assinados nomes como Danzig, Helloween, Tarja Turunen e os já resenhados Sleepytime Gorilla Museum. Isso permitiu a eles gravar profissionalmente seu primeiro álbum, Metridium Fields, em 2006. O álbum já havia sido gravado em 2004, mas independentemente e sem muitos recursos. Isso levou a banda a regravá-lo na íntegra.

A recepção do debut do Giant Squid foi ótima e a banda fez uma turnê bem sucedida nos EUA para divulgar o álbum. De fato, a turnê foi tão bem sucedida que a gravadora queria prolongá-la ainda mais, e a banda, ansiosa por gravar um novo álbum, voltou a ser independente.

Isso não os desanimou. Pelo contrário: os já experientes membros da banda se sentiam preparados e seguros para fazer um novo álbum, e então começou o nascimento de The Ichthyologist.

A formação do Giant Squid sempre mudou muito - motivo pelo qual eu não a havia comentado até então. A banda coleciona 10 ex-integrantes, mas a formação que gravou The Ichthyologist permanece quase a mesma desde 2009: Aaron Gregory (guitarra/vocal), Bryan Beeson (baixo), Chris Lyman (bateria)  e Jackie Perez Gratz (violoncelo/vocal). Lyman seria substituído por Scott Sutton posteriormente.

O álbum foi gravado em 2008 e lançado em fevereiro de 2009. As primeiras 50 cópias, disponíveis para pré-venda, vinham com um dente de tubarão que o Aaron havia coletado em um aquário de São Francisco (onde, diga-se de passagem, ele trabalha como mergulhador, cuidando dos animais). Isso porque The Ichthyologist, a exemplo do EP debut, também é conceitual. Fala sobre um homem que foi separado de sua própria humanidade ao se perder no mar com seu navio e, durante seus vários anos vagando no mar, adota maneiras não humanas de sobrevivência para, no final, se tornar um outro tipo de ser. As músicas têm um nome original e um nome em latim, que corresponde à nomenclatura científica de algo relacionado ao mar.

A faixa de abertura é Panthalassa (Lampetra tridentata), e a partir dela já dá pra ter uma noção do que o Giant Squid é capaz. Em um compasso 6/4, a guitarra limpa de Gregory e o violoncelo de Gratz preparam o ouvinte para todo o peso que vem depois, em um riff pesado e coeso. A voz de Gregory agrada tanto quanto sua interpretação, mas o que eu destacaria mais neste disco não seria a habilidade ou o virtuosismo dos músicos, mas todas as texturas das músicas. Tudo parece ter sido muito bem pensado, muito bem analisado. Tanto o trompete que surge surpreendentemente quanto o baixo com distorção, o que mostra, ao mesmo tempo, influências muito distintas. Quando os vocais de Gratz entram e adicionam o lírico feminino, bem no final, não restam dúvidas sobre o talento incrível da banda.


La Brea Tar Pits (Pseudomonas putida) é lenta, tem um ritmo arrastado, alternando tônicas e quintas e com um vocal incrivelmente sofrido. A partir dos dois minutos, a música fica bem mais limpa e os fraseados de guitarras ficam mais delicados, mas nem por isso menos tensa. No final, um solo de guitarra, mas neste disco eles são raros e muito diferentes dos solos das maiorias das bandas de metal - não há virtuosismo: a banda sempre preza pelo feeling e pela textura. Pesadíssima e belíssima.

Sutterville (Vibrio cholerae) é uma das mais estranhas do álbum (e uma de minhas favoritas). Tudo nela é estranho: tanto o compasso irregular quanto a melodia meio letárgica, meio onírica. O vocal preguiçoso passa a impressão de uma resignação obrigatória. As guitarras parecem violinos misturados ao violoncelo de Gratz. Ótima faixa.


Dead Man Slough (Pacifastacus leniusculus), a exemplo de La Brea Tar Pits, tem um ritmo lento, mas aqui o violoncelo tem um papel mais proeminente. A música tem um clima mais ameno, apesar do vocal quase sussurrado de Gregory. As intervenções vocais de Gratz são um belo toque. Destaque para a passagem calmíssima cantada pela moça e pelo final pesadíssimo.

Throwing A Donner Party At Sea (Physeter catodon) é uma paulada. Começa com um riff distorcido e logo a banda toda entra como um trovão. A faixa tem características que lembram desde System Of A Down até death metal, com participação especial de Karyn Crisis (do Crisis
) no vocal. A parte instrumental é grandiosa, aproximando-se do metal sinfônico. Outro ponto altíssimo do álbum.

Sevengill (Notorynchus cepedianus - o tubarão cujos dentes foram dados nas primeiras cópias) começa com um apito de navio ao fundo e se transforma em uma bela balada, novamente com os vocais de Gregory carregados com o sofrimento do protagonista do álbum. Esta faixa conta com a colaboração de
 Anneke Van Giersbergen (do The Gathering) nos vocais e Lorraine Rath (Amber Asylum) na flauta. No final a música ganha todo um peso dramático. Não é das minhas favoritas, mas não deixa de ser uma boa faixa.

Mormon Island (Alluvial Au) poderia facilmente ser a trilha sonora de um filme de terror. Os violinos da convidada Kris Force (Amber Asylum) junto com a guitarra minimalista e o cello de Gratz
 criam um suspense incrível, uma calmaria desesperadora que parece estar sempre à beira de uma perturbação súbita. É praticamente um ambient de terror. Bela faixa.

Blue Linckia (Linckia laevigataalterna momentos pesados em compassos irregulares e tom medievalesco com momentos mais líricos e melódicos levados pelo cello de Gratz
. É uma faixa grandiosa, novamente muito bem texturizada. O riff do final se extende por três minutos, variando apenas na intensidade e roupagem.

Emerald Bay (Prionace glauca) é uma faixa calma e extremamente minimalusta, guiada basicamente pela guitarra limpa e pelos vocais. Conta com a participação de Cat Gratz, irma da violoncelista Jackie
. A faixa não decola, mas contribui muito com a integridade do álbum.

Rubicon Wall (Acipenser transmontanus) é o gran finale e cumpre com a responsabilidade. A bateria de Lyman é um destaque, e a banda toda faz um belo papel em todas as variações da música: do início melódico e triste ao peso dramático que se segue, com as guitarras distorcidas e o vocal de Gregory. É extremamente pesada e lenta (resquício da grande influência de doom metal
) e tem diversas mudanças de andamento. As melodias são belíssimas, e certamente é um ótimo jeito de encerrar este belo álbum.

Rótulos à parte, este álbum do Giant Squid
 é uma ótima opção para quem procura criatividade e beleza dentro de um gênero tão estereotipado quanto o metal. Instrumentos inusitados e arranjos belíssimos aliados a peso e groove.

Recomendadíssimo para fãs de metal, de música criativa e oceanógrafos.

Tracklist:
  1. Panthalassa (Lampetra tridentata) – 5:50
  2. La Brea Tar Pits (Pseudomonas putida) – 7:28
  3. Sutterville (Vibrio cholerae) – 4:08
  4. Dead Man Slough (Pacifastacus leniusculus) – 5:33
  5. Throwing a Donner Party at Sea (Physeter catodon) ft. Karyn Crisis – 5:40
  6. Sevengill (Notorynchus cepedianus) ft. Anneke van GiersbergenLorraine Rath – 7:10
  7. Mormon Island (Alluvial Au) ft. Kris Force – 6:39
  8. Blue Linckia (Linckia laevigata) – 7:13
  9. Emerald Bay (Prionace glauca) ft. Cat Gratz – 6:11
  10. Rubicon Wall (Acipenser transmontanus) – 7:59

domingo, 12 de junho de 2011

Banda: Kultur Shock; Álbum: Kultur-Diktatura



Banda: Kultur Shock
Álbum: Kultura-Diktatura
Ano: 2004
Gênero: Punk Cigano; Metal Experimental; World Music


O nome da banda não poderia ser mais honesto. O Kultur Shock é uma banda fundada em 1996 durante uma festa nos EUA onde alguns caras do leste europeu começaram a zoar suas próprias tradições com um violão. O sucesso na tal festa foi tanto que eles resolveram continuar com a fórmula, mas o formato acústico logo foi substituído pelo plugado e a banda começou a tocar nos bares de punk de Seattle - sempre misturando muito da música cultural leste-europeia. O primeiro disco da banda, Live In Amerika, foi lançado em 1999 e traz uma dessas apresentações.

Durante um show, o ex-baixista do Nirvana Krist Novoselic (de origem croata) se impressionou e chamou ninguém menos que Jello Biafra (ex-vocalista do Dead Kennedys), que também se impressionou e ligou para Billy Gould (baixista do Faith No More), que contratou a banda para seu selo, o Koolarrow Records.

O primeiro álbum pelo novo selo foi lançado em setembro de 2001, coincidindo com o mês dos atentados. Muitos americanos se sentiram ofendidos pelos arranjos com pitada árabe e quebraram os discos, coisa digna de Idade Média.

O Kultur Shock, entretanto, não se importou com os protestos e, três anos depois, lançou o álbum aqui resenhado, Kultura-Diktatura.

A formação do Kultur Shock na época era a seguinte: da Bósnia, Gino Srdjian Yevdjevic (vocal/djumbek) e Mario Butkovic (vocal/bozouki), dos EUA, Chris Stromquist (bateria) e Matty Noble (violino), do Japão, Masa Kobayashi (baixo) e, da Bulgária, Val Kossovski (guitarra/vocal).

O álbum abre com Tutti Frutti, que nada tem a ver com sua xará muito famosa nas vozes de Elvis Presley e Little Richard. Com uma influência escancarada de música cigana, a salada do Kultur Shock vai se revelando no decorrer da música: passagens com uma pitada de flamenco e até salsa. O peso que a música ganha no final lembra um pouco System Of A Down
. A letra mistura diversos idiomas, e essa é uma tendência no álbum.

Morto é uma faixa com forte influência de nü metal, com um ritmo mais groovado e guitarras pesadíssimas. Belos riffs durante toda a música, e o vocal se destaca muito pela influência da música oriental, muitas vezes lembrando o grande Serj Tankian do já citado SOAD
.

Horse Thief soa como se o Taraf de Haïdouks (banda romena de música cigana já resenhada neste blog) fosse liderada por Jello Biafra.
O ritmo galopante e frenético junto às letras em vários idiomas (entre eles bósnio, romeno e inglês) são deveras empolgantes, e a quebra inesperada no meio da música dá um charme único, recomeçando a música em um ritmo lentíssimo e gradualmente aumentando o andamento até explodir novamente. Uma das melhores faixas do álbum, sem dúvida.

Kamarage exala a origem balcânica da banda. Com uma levada marcante, um ritmo muito semelhante ao nosso baião, o Kultur Shock nos surpreende com um reggae no refrão.  Destaque também para o belíssimo solo de violino de Noble
.

Hashishi
 é uma das minhas favoritas. Um inesperado scratch dá lugar a um canto feminino em um ritmo que remete à dança do ventre e fica por muito tempo na cabeça. A execução dos instrumentos é impecável (como em todo o álbum), e a incorporação de elementos musicais mais modernos (scratch, batidas eletrônicas) torna esta música uma experiência que dificilmente se tem em outro álbum.

Alma tem uma introdução furiosa que destaca as habilidades de Stromquist na bateria. Acho interessante como o baixo poderia estar facilmente em uma salsa cubana ao mesmo tempo em que a guitarra dá à música uma roupagem totalmente oriental. A ponte exalta a máxima zapatista "todo para todos, nada para nosotros
". A salsa furiosa do final fecha esta faixa com chave de ouro - outro ponto altíssimo do disco.

Da Ye
 tem uma introdução melancólica que se transforma em um pegajoso refrão. A bateria é marcante durante toda a música, mas talvez seja um dos momentos menos inspirados deste belo álbum.

O mesmo, porém, não podemos dizer de Mustafa. A bateria anuncia um riff de metais que poderia estar em uma faixa do X-Ray Spex
, a banda de punk/new wave que utilizava o saxofone de maneira muito peculiar (vale a pena ir atrás de algo deles caso você não conheça). Segue-se então um tipo de bolero com uma performance impecável dos vocalistas. Uma faixa direta e muito sincera.

Blagunyo Denche
 tem um andamento esquisito (7/8) e muitos bouzokis e cítaras. O refrão com palmas e guitaras é interessantíssimo, mas não incluiria esta faixa entre as melhores do álbum.

Romana tem um riff à la Rage Against The Machine
 acompanhado com guitarras e metais no começo, mas logo tem uma mudança brusca de andamento e fica muito mais calma. Quando a faixa parece estar caminhando para esse caminho até o fim, a música muda para o punk rock e, novamente, para o riff do começo. Bela faixa.

Nightmare começa com um baixo agressivo e repetitivo que logo é complementado por uma batida eletrônica. Lembra um pouco Secret Chiefs 3
, até mesmo quando os andamentos mudam e transitam entre gêneros. É sensacional a naturalidade com que a música intercala o tradicional (música árabe, rock) com o mais "moderno" (música eletrônica).


Nano (N.J. 1919 - 2002) tem um clima épico, sempre criando uma expectativa de algo grandioso. Os interlúdios com harmonias vocais são belíssimos, e essa expectativa finalmente se cumpre aos 3:40, quando começa um riff matador de baixo e os demais instrumentos se unem para criar mais um grande momento deste álbum. Ótima faixa.

Too Late To Fornicate encerra o álbum de maneira inusitada. A guitarra solitária dedilha uma melodia triste e uma voz carregada de sotaque canta melancolicamente sobre sua dificuldade em se comunicar em inglês e sobre como "ainda é manhã cedo, mas já é tarde demais para fornicar
".

Kultura-Diktatura
 é um ótimo álbum de mais uma grande banda que quase ninguém conhece. É triste pensar que uma proposta interessante e diferente como essa raramente vê a luz do sol.

Recomendadíssimo.

Tracklist:

1. Tutti Frutti
2. Morto
3. Horse Thief
4. Kamarage
5. Hashishi
6. Alma
7. Da Ye
8. Mustafa
9. Blagunyo Denche
10. Romana
11. Nightmare
12. Nano (N.J. 1919 - 2002)
13. Too Late To Fornicate


Abaixo, Hashishi sendo executava ao vivo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Banda: Diablo Swing Orchestra; Álbum: The Butcher's Ballroom


Banda: Diablo Swing Orchestra

Álbum: The Butcher's Ballroom
Ano: 2006
Gênero: Metal Avant-garde

O metal é um gênero que acumula preconceitos, lendas urbanas, mitologias, amor, ódio e muitas subdivisões.

Todo mundo já teve um colega de classe cabeludo que, não raramente, aparecia com uma camiseta de banda de metal. Quem não teve, era o próprio cabeludo (inclusive este que vos fala). O gênero tem tantas subdivisões que geram atrito entre os fãs desse ou daquele estilo: heavy, thrash, glam, death, black, white, funk, prog, , groove, doom, industrial e muitos outros.

A cultura do metal é tão peculiar que existem rótulos para aqueles que só escutam e gostam de determinado estilo - os true - e para aqueles que fingem que gostam - os posers. Existem bandas que levam isso tão a sério que viram inspiração para bandas-sátira, como o Manowar para o Massacration. E essa atitude de true e poser é o que faz com que os fãs de metal sejam vistos como bitolados pelas pessoas mais ecléticas.

Quando os preconceitos são deixados de lado e as bandas resolvem agregar elementos alheios ao estilo, porém, geralmente o resultado traz discos marcantes e muito originais - o álbum Roots dos brasileiros do Sepultura, por exemplo, misturou música indígena dos Xavantes com o groove metal herdado do disco anterior, Chaos A.D.. É considerado por críticos e por muitas outras bandas como um dos álbuns mais influentes dos anos 90, embora alguns fãs mais tradicionais da banda torçam o nariz pelo caminho tomado pela banda após o também clássico Arise.

Essa conversa toda foi para chegar ao disco aqui resenhado: o ótimo The Butcher's Ballroom da banda sueca Diablo Swing Orchestra.

A história "oficial" da banda é cercada de mitologia. Diz a lenda que no século XVI, na Suécia, existia uma orquestra que tocava hinos que desafiavam o poder da Igreja (teoricamente Protestante) que dominava o país. Ao provocar a ira dos religiosos, os integrantes dessa banda tiveram que viver escondidos nas casas dos camponeses. Por anos a orquestra tocaria para o prazer de seus anfitriões, mas ao ver que a recompensa oferecida por suas cabeças era alta demais, os músicos concluíram que seriam capturados e, em uma despedida triunfal, fizeram um espetáculo maravilhoso e inacreditável antes de serem executados. Os membros da Diablo Swing Orchestra (ou DSO) seriam descendentes desses mártires da música.

Fantasia à parte, o DSO é formado por Daniel Håkansson (guitarra/vocal), Pontus Mantefors (guitarra/efeitos), Annlouice Lögdlund (vocal lírico), Andy Johansson (baixo), Johannes Bergion (violoncelo), Andreas Halvardsson (bateria, posteriormente substituido por Petter Karlsson), Daniel Hedin (trombone) e Martin Isaksson (trompete). Essa formação - nada ortodoxa para uma banda de metal - é um dos motivos pelos quais o DSO é tão diferente das demais bandas. E ao ouvir The Butcher's Ballroom fica óbvio o motivo.

O disco abre com a poderosa Balrog Boogie, um cruzamento preciso de metal com boogie -woogie (como o título sugere). A primeira vez que se escuta a voz da soprano Lögdlund é um choque, principalmente no meio de uma música nada lírica como essa. Difícil não se deixar levar pelo ritmo, e é possível até imaginar muitos dos true se segurando para não sair dançando. Isso sem contar a peculiaridade da letra ser em latim.

Heroines começa tranquila, com um ritmo gostoso no violoncelo e na bateria. Os vocais calmos de Lögdlund logo dão lugar à uma ponte interessantíssima com direito a um dueto com ela mesma, e um urro gutural faz a música explodir com as guitarras distorcidas. Tem um belíssimo refrão e é uma das que mais me chamou a atenção na primeira audição.

Poetic Pitbull Revolutions começa com um violão flamenco interessantíssimo, e logo as guitarras distorcidas entram junto com os trompetes e parece que estamos em um filme onde Zorro faz parte do Metallica. O contraste dos riffs pesados com a melodia à-lá mariachi dos trompetes funciona tão bem que é difícil lembrar que, originalmente, um não tem nada a ver com o outro. Os vocais dessa vez ficam, na maior parte da música, por conta de Håkansson, mas quando Lögdlund aparece a música ganha proporções épicas. Ótima faixa.

O teclado da introdução de Rag Doll Physics poderia facilmente aparecer em um disco do Deep Purple. A música é uma bela valsa, com vários momentos minimalistas onde a banda pára e dá destaque para a voz da vocalista. Destaque para o dueto barroco de violões próximos ao fim da faixa.

D'Angelo é um momento plenamente lírico. Contando apenas com Lögdlund cantando em italiano acompanhada de um violão levemente dedilhado, é um dos momentos mais tradicionais do álbum. Nem por isso deixa de ser bela - é o tipo de música que tanto você quanto sua avó iriam achar linda.

A calmaria da música anterior dá lugar à pancada Velvet Embracer, uma bela faixa de metal sinfônico. Grandiosa e pesada, é uma faixa que os fãs de Nightwish e outras bandas do estilo certamente iriam gostar muito. Os vocais de Lögdlund novamente impressionam, e o arranjo de cordas ao fundo são a cereja no topo do bolo.

Se você não sabe o que é um didgeridoo, dê uma olhada no vídeo abaixo:


Esse instrumento, assim como o rapaz que o está tocando no vídeo, tem origem aborígene, ou seja, na Austrália pré-colonial. E é com esse som que começa Gunpowder Chant, uma faixa instrumental com pegada árabe. É muito sinestésica, com uma bateria marcante, e quando menos se percebe já começou Infralove. A transição entre as duas músicas é imperceptível, e é interessante ver como a melodia da primeira é desenvolvida na segunda música. É como se um faraó saísse de sua pirâmide em Gunpowder Chant, agarrasse uma prancha e começasse a surfar no Mar Mediterrâneo em Infralove.

Wedding March For A Bullet é uma de minhas faixas favoritas. Uma música extremamente bem construída, pesada e elaborada que consegue ser fácil de escutar ao mesmo tempo. Os riffs precisos, a bateria destruidora e o groove do refrão são irresistíveis.

Qualms of Conscience é um pequeno filler no piano, mas Zodiac Virtues passa longe dessa condição. O riff malvado que abre a música dá lugar à um vocal que me lembra Andi Deris, do Helloween, por algum motivo. Novamente Lögdlund impressiona no refrão (ela não cansa?!). As cordas e o coral dão, novamente, um tom épico à essa bela canção.

Porcelain Judas tem um tempero oriental misturado aos riffs, que por sua vez tem muita influência de música clássica no refrão. Muitas variações estilísticas nesta bela faixa.

O gran finale fica por conta de Pink Noise Waltz. Como o nome sugere, é uma valsa pesadíssima, que alterna momentos mais delicados com momentos agressivos. O final da música é um desfile de estilos e influências: música barroca em alguns interlúdios (particularmente no solo de flauta), thrash metal e, surpreendentemente, o álbum termina com um suave jazz.

Não tenho dúvidas que os true de alguns estilos de metal iriam desprezar este álbum, mas eu o recomendo por ser uma belíssima demonstração de como fazer música pesada com criatividade, qualidade e principalmente sem burocracia.

Tracklist:
1."Balrog Boogie"  3:52
2."Heroines"  5:21
3."Poetic Pitbull Revolutions"  4:52
4."Ragdoll Physics"  3:52
5."D'Angelo"  1:53
6."Velvet Embracer"  4:04
7."Gunpowder Chant"  1:50
8."Infralove"  4:53
9."Wedding March for a Bullet"  3:13
10."Qualms of Conscience"  1:15
11."Zodiac Virtues"  4:46
12."Porcelain Judas"  4:08
13."Pink Noise Waltz"  6:05